Perspectivas de partes de uma Vida

Sou desorganizado por natureza. Desde que me lembro de mim sendo eu, sou desorganizado.

E desorganizo-me principalmente com o tempo. O tempo para fazer as coisas certas, no momento correcto. Por vezes por opção. Por vezes por imposição. Espremendo tudo, a realidade é que não o consigo gerir.

Desde aquele dia que deixei a saia da minha mãe, abandonei aquele quarto, que assim é. Principalmente, desde esse dia. Mas o que mais me afronta, é querer estar com as pessoas de quem gosto e não consigo. E vejo remorsos quando olho para trás. Além de lamurias quando olho em frente.

Sendo a vida um rio, a viagem vai a meio. Não sendo circular, estamos sempre a tempo de mudar. Vontade não falta. O que me faz sentar e pensar, deixar de ver a vida andar - ao sabor do vento - e assumir as suas amarras.

É sempre altura de recomeços.

Amores Eternos

Não estou a falar para mim, mas para ti.

A vida é curta. Contudo, existem pessoas que por ela passam e permanecem. Algumas razões são facilmente identificáveis, outras nem tanto. Mesmo a distância não as consegue apagar. Consegue sim, criar saudade. Lembranças. E memórias. Nostalgia, E alegria. Quem nunca divagou ao ouvir uma música, transportar-nos para outro espaço. Outro mundo. Parecem vivências de outra vida. E por isso se desvanecem se nada fizermos para parar as regras que deterioram a história. A força está dentro de nós.

A vida é uma passagem. Não andamos cá por muito tempo, é uma verdade universal à qual fugimos todos os dias. E a nossa fuga, é viver tudo de uma só vez. É ser sôfrego. Ter gula de ter mais. Ou ter tudo de uma vez só. Desculpem, mas a infelicidade vem acompanhada com esta maneira de viver. Sentimo-nos sós o resto do tempo. A solidão apodera-se do tempo. E do espaço. A vida perder cor. Acaba por perder vida também. O tempo - ai o tempo - passa sem sabermos que passa. É como se nada acontecesse nestes momentos.

A vida dá muitas voltas. Mudas de cidade, mudas de emprego, mudas de vida. Mas no fundo, olhas para dentro de ti e sabes que elas estão lá. Mesmo quando não estão. Sabes que não precisas de falar todos os dias. Nem todas as semanas. Mas quando falas, parece que ainda foi ontem a última vez que trocaram palavras. Abraços e beijos. Sorrisos e lágrimas. Quando te sentas à lareira a ouvir os conselhos sábios dos mais velhos, vem sempre o mesmo ditado à baila,

"Diz-me com quem andas, vou-te dizer quem és", e eu sempre respondo que sou somatório de todos vós.

Desculpem, perdi-me nas palavras. As lágrimas começam a correr-me nos olhos. Tenho as mãos a tremer. Trazer isto ao mundo, causa-me dor. Dor por saber o que vivi, e acabei por perder. Angústia por não perpetuar. E tristeza por não o conseguir mais vezes.

No fundo, sabes que serás sempre uma parte de mim. As palavras acabam por deixar de ser palavras. Foram segredos. Olhares. Pequenos toques que tudo diziam. Foram tudo. E parece que hoje já nada são. Os segredos sei que ficaram sempre aí, guardados. A cumplicidade ficará guardada algures. O livro da vida acabará por guardar tudo o resto.

Existem muitos tipos de amor. E de pessoas. Alguns, - estes - serão eternos...




Amores e saudades.

Não consigo viver sem ti.

Costumam dizer que o amor fala mais alto. Já acreditei que não, continuo a sonhar que sim. E com o amor vem a saudade. Este sentimento de ausência que que me vai matando aos poucos. Saber que estás aí e, ao mesmo tempo, não estás, faz-me sentir só. Perdido. É um estranho vazio para o qual não estava preparado - como me conheço, nunca estarei - e me faz chorar. Choro e desespero, desprotegido no canto do meu quarto. A impotência de não poder estar presente nos teus bons momentos (e nos maus), de não poder fazer nada que mude o rumo dos acontecimentos, sem que eles me conduzam ao precipício. Acordo dia atrás de dia, sem ti a meu lado, sem o teu perfume espalhado pelos lençóis, sem a tua cabeça aconchegada em mim,

Na realidade, estou mais sozinho que nunca.

Olho para o tempo que passámos juntos e vejo que era sôfrego. Tantas coisas para fazer e tão pouco tempo para cumprir promessas. O reencontro enchia-me de beijos e a despedida de um aperto no coração. De lágrimas. Nunca pensei que o tempo pudesse voar. Idealizei algo para mim, para nós. O amor que tínhamos merecia ser vivido, não sonhado.

Hoje, contínuo a sentir-me só.

Nada se esquece na solidão. Essa, é alimentada por memórias e recordações. De ti. De mim. De nós como um só. De beijos, mimos e abraços. De arrufos e pazes. De cumplicidade e de um "ok" a acabar uma frase, como que a dizer-me que já fiz asneira. Do conforto e a amizade. A entrega e o sonhar. Era felicidade espelhada em todos os momentos. Um mundo diferente. Distante porque nunca nos apetecia voltar. O tempo voltava a voar, aí sem que me importasse. Saber que me completas torna-me realizado.

A saudade torna-me vazio.

Como torna o meu mundo insignificante. Sinto falta das pequenas coisas. As minhas t-shirts no teu corpo. O pão - sempre com aquele sabor estranho - ao pequeno almoço. Massagens eram sempre conquistadas em disputas. Sinto falta de poder ser eu. Sinto falta de alguém que me guie. Levei as coisas levianas e fiz mal. Hoje, hoje sonho. Sonho com o Cosmos. Os amores não foram feitos para serem perfeitos, mas para serem para sempre.

Desculpa, mas não consigo viver sem ti.

Paradigma

Enganas-te.

Nunca vou ser aquele rapaz de corpo definido. Não tenho vontade de ir horas e horas a fio, para o ginásio fazer o que não gosto. Também nunca achei piada aquelas fotos em frente do espelho a exibir o músculo. Grande e, aparentemente, forte. Sou roliço, e quanto a isso, nada faço. Continuo a comer aquilo que me apetece. Sobretudo o que gosto. Não faço fretes para agradar a quem não quero. Seja na comida ou... na vida social. Amadureci. Não vou ser aquele rapaz que se dá a toda a gente. A selectividade é agora uma rotina. Sorrisos e "olás" apenas me fazem educado. Amigos, esses, conto pelos dedos do corpo. Talvez tenha que juntar os das mãos aos dos pés mas, no final, não são assim tantos. Também não sou de fazer as coisas contra natura. Não me peças para andar de mão dada. Não gosto, transpiro. Não gosto de mostrar romantismo na rua, nem o Ártico em casa. Os conceitos estão errados. Nos dias que correm, todos mostram ao mundo aquilo que não são. Apenas o fazem porque é politicamente correto, ou assim eles pensam. Gosto da minha playlist. Não a mudo apenas porque não é o que está na moda. Os chamados "hits de Verão" não deixam de ser isso mesmo, uma música, por vezes engraçada, que dá na rádio num verão como tantos outros. Dentro da minha complexidade, não deixo de ser uma pessoa simples.

E tu?

Tu nunca vais entrar nos meus padrões. Não gosto que ligues mais ao facebook do que à tua vida. A real. Aquela, segundo palavras dos meus antepassados, que te põe comida na mesa. Não gosto que poses só porque gostas de ter 4387385 de "likes" nas fotografias e, por isso, vestes menos roupa para elas do que para mim. Não gosto da futilidade em que te estás a tornar. Conta mais o que os outros vão falar de ti do que aquilo que tu pensas de ti própria. Vais a um bar específico, uma praia idem aspas aspas, um restaurante conhecido, só porque "parece bem". Ligas mais ao veres o Pedro Teixeira na rua do que eu te fazer um jantar a dois. Juntas-te a pessoas ocas. Os objectivos das novas gerações não é tirarem um curso superior e começarem a trabalhar. É terem uma cara linda, um sorriso de dentes branquinhos, um cabelo perfeito, umas mamas postiças, um rabo empinado e assim serem relações públicas de um bar ou de uma festa. Se lhe perguntares como está a economia europeia, dir-te-ão que ajudam a Grécia porque compram iogurtes "grekos". Se lhe perguntares o que é um preservativo, foi algo que ouviram falar na reunião de planeamento familiar. Nunca usaram, por isso, estão a passar o Verão no Algarve e a avó a tomar conta da criança. Se lhe perguntares a idade, vai-te dizer que acabou de fazer 22. Também nunca vou perceber porque, quando és mesmo abençoada divina, porque olhas para mim com um olhar repugnante. Não tenho 1,80m, não tenho cabelos loiros, abdominais definidos foi coisa que apenas vi em revistas, o Porche continua a ser o meu sonho - que relembro todos os dias pela imagem de fundo do computador -, a casa de praia uma utopia, a quinta uma miragem. Mas por dentro...

Aí sou grande, tão grande que não cabo em mim.

Pais e Mães

Admiro o meu pai. E a minha mãe.

Desculpem. Admiro todos os pais e todas as mães. Desde pequenos que sonhamos ser adultos. "Olha pai, quando tiver 18 anos já posso tirar a carta e andar de carro", "Mãe, quando é que não vou ter horas para chegar a casa?", "Vou fugir de casa para fazer o que eu quiser sem ninguém me mandar", são algumas das frases mais ecoadas durante a adolescência de todos. Queremos ser adultos a toda a força que por vezes até nos esquecemos que os melhores anos da nossa vida estão na nossa infância. Brincar sem responsabilidades. Roupa lavada ao final do dia. Quarto imaculado desde manhã. Comida na mesa sem que nada tenhamos feito para isso acontecer.

E isto me leva ao início deste excerto. Os adultos são aqueles que têm responsabilidades. Que trabalham dia após dia, semana após semana, anos a fio até chegar o seu tempo de reforma. Trabalham para proporcionar o melhor para os seus filhos. Para que estes nunca saiam de casa a dizer que lhes faltou isto. Ou aquilo. Para que estes sejam o brilho dos seus olhos mesmo na velhice. E trabalhar de sol a sol tem uma grande dificuldade. O cansaço. Físico e psicológico. Mas chegam a casa e "fecham os olhos" a todas as dores, todos os problemas e vão com sorriso na boca ajudar-nos a fazer os trabalhos de casa que trouxemos dos ATL - lá a nossa cabeça está em brincar com os da nossa espécie. Vão ligar o radiador da casa de banho para estar quente quando vamos tirar todo o suor e toda a poeira de mais um dia de brincadeira. Vão meter a mesa e fazer o jantar para nos repor a energia e as vitaminas do dia, dia esse que nós sonhamos ser do mais cansativo que a vida tem para nos oferecer. Retiram a mesa, lavam a loiça, dão um jeito na cozinha e vão para o sofá ver a novela connosco. E antes de dormir, ainda têm tempo de nos ir dar um jeito na cama e um beijo de boa noite até se apagar a luz do candeeiro da mesa de cabeceira. Aí acaba o nosso dia, mas o deles contínua. Têm contas para fazer. Como pagar os livros, a escola, a mesada, o gás, a luz, a roupa nova que precisamos. Põem sempre nos nossos "vícios" primeiro que os deles. Ainda vão debruçar-me em no que fazer no fim de semana, onde irão ser as férias, como irão trocar de carro. Quem leva a avó ao médico. E às compras. Quem ajuda nas mudanças da família. Estoirados vão dormir para acordarem primeiro que nós e nos ir acordar. Despertador é algo que não consta do vocabulário de um adolescente. Quando vais à cozinha, já encontras uma torrada e um café com leite. E passado 5 minutos estão a gritar para ir embora, que estão atrasados para te deixar na escola. Ser pai, ou mãe, é um dos maiores privilégios que existe. Mas custa. 

Já eu, chego a casa e apenas penso em dormir. Não tenho a sua força e a sua vontade. Uma vida fora de casa e outra em casa. E por isso, admiro todos os pais e todas as mães.

Dois euros.

Intervalo. Finalmente um intervalo. Pedro encontrava-se exausto. Sonhava com aquela hora desde que entrou. Tinha passado mal a noite, dormido pouco. Dirigiu-se a uma esplanada para satisfazer o seu pequeno vício.

- Um café, por favor.

Enquanto apreciava o seu café, e com todo o tempo do mundo, Pedro decidiu observar a paisagem e as pessoas. Em pouco tempo satisfez-se de conclusões. Existem pombas. Muitas pombas. Pombas por todo o lado. Sozinhas. Em grupo. As pessoas de Lisboa já se habituaram a estes pequenos voadores. Algumas andam pela rua como se elas não existissem. Outras tratam-nas como seus animais de estimação e decidem alimentá-las com pequenas migalhas de pão duro. Até as pombas já se sentem o alarido da capital. Correm. Fogem. Não param um segundo.

Não param um segundo, como os alfacinhas. Peço desculpa, ninguém que vive em Lisboa nasceu realmente lá. Foram todos à procura do mesmo sonho que Pedro, trabalho. E por isso não vivem em Lisboa, vivem de Lisboa. Olhando em sua volta, ninguém parava quieto. Ou para apanhar o metro. Ou o táxi, Ou o autocarro. Era notório a falta de felicidade na cara daqueles transeuntes. Apenas viviam para trabalhar e dormir. Ninguém aproveitava o que de bom havia para oferecer. Todos os seus companheiros de esplanada eram turistas. Ouvia-se inglês. Francês. Espanhol. Italiano. E outras línguas ainda mais indecifráveis, talvez indiano ou outra.

E era destes turistas que outra classe social se alimentava. A cada cinco metros encontrava-se um pedinte. Ou um cantor. Um dançarino. Um vendedor de bugigangas, relógios ou óculos de sol. Em dias de chuva, a oportunidade dos chapéus. Estátuas vivas. Tudo girava à volta do dinheiro que lhes podiam oferecer, ou não. Alguns mais descarados, decidiam vender maconha. Com isto, Pedro associou as pombas. As pessoas pareciam reagir da mesma forma com ambos, ou alimentando-os ou ignorando-os. A música continuava a zumbir aos ouvidos de muitos. Até dos dele próprio, quando reparou que o seu intervalo estava a acabar.

- Olhe desculpe, pode-me fazer a conta?
- Dois euros.

- Em Lisboa pensam que toda a gente é turista - pensou Pedro.

Um rapaz do interior na capital

Nas voltas da vida, ele acabaria por embarcar com destino a Lisboa.

Com tamanhos sonhos, por tantas vezes de olhos abertos, ele acabaria onde menos esperaria. Que cidade é esta? O que tem isto a ver com a minha aldeia? Estas e outras, eram algumas das perguntas que se deparou quando chegou à estação dos autocarros e ouviu, "última paragem!".

Pedro. Era o nome do rapaz. Nascido e criado no interior a viver na capital. Um mundo diferente, completamente díspar de tudo aquilo que conheceu. Lisboa é terra de encantos. É propicio a tantas novidades. Maravilhas acontecem em cada canto, por vezes em mais que um canto ao mesmo tempo. Pedro nunca teria tempo para conhecer tudo. Nem metade. Talvez um décimo seria possível. Talvez...

Após uma névoa inicial, era necessário tomar as rédeas da vida. Já que aqui vou viver durante os próximos tempos, ao menos que viva como se deve viver, era o lema que Pedro pensava dia após dia quando acordava. A desilusão deu lugar a entusiasmo, a curiosidade. Aquela eternidade que os minutos no seu relógio cássio demoravam a passar, desapareceu. Pelo contrário, faltava-lhe tempo e, sobretudo, vivacidade para conseguir conhecer ainda mais.

Lisboa tinha tanto de bom. Existe um teatro em cada esquina. Cafés temáticos são aos pontapés. Música ao vivo em cada buraquinho. Restaurantes típicos de diferentes países até perder a conta. Meninas bonitas. Ai as meninas bonitas. Pedro nunca sabia para onde se virar na rua. Para onde quer que olhasse encontrava sempre uma menina bonita. Era a sua perdição. O local que escolheu para viver em tudo lhe fazia lembrar a sua casa. Era um bairro no meio da metrópole. A roupa estendida no parapeito da janela. As pessoas à conversa como os vizinhos costumam fazer. Gente acolhedora. Até a senhora da mercearia era prestável. Quando faltava o dinheiro na carteira, ela fazia fiado. A confiança, amabilidade e companheirismo reinavam naquele pequeno mundo.

Mas também tinha de mau. Lisboa era terra de desconhecidos. A maioria das pessoas com que Pedro se cruzava, encontravam-se na mesma situação que ele. Ninguém pertencia realmente ali. Vieram à procura das oportunidades, tal como ele. E por isso era tão complicado fazer amigos. Toda a gente já tinha os seus amigos (mesmo ele, apesar de com todo o trânsito e horários trocados nunca os conseguir ver). Toda a gente tinha a sua cidade natal. E com isto imperava a saudade de casa. Da família e dos amigos. Este sentimento era aquele com que Pedro mais lutava. A saudade de se reunir ao fim do dia com os amigos. Beber um copo. Jogar umas cartas. A diversão era sempre relativa quando o importante era a reunião. E a conversa. O aconchego da lareira. A doçura de nos sentarmos à mesa com o jantar feito, com aquele sabor especial. Fosse a mãe ou a avó, o comida tinha sempre outro gosto. Outro paladar. O abraço ao domingo era a imagem marcante num dos seus olhos, os sorrisos de sexta feira era o seu complemento.

Lisboa ainda é para ele, como a música dizia, menina e moça. Prestes a ser amada, como cidade mulher da sua vida.