Uma amiga, uma paixão comum: a escrita.
"Inspira.
E fechas os olhos. Susténs a respiração por meia dúzia de segundos e isolas-te do resto do mundo. É na chuva que encontras as notas e acordes das tuas músicas, as que ainda tens por compor. O tempo pára nesse pequeno interlúdio, onde o limbo do silêncio dá lugar à doce melodia cantada e tocada pelos deuses. Tudo toma forma na tua cabeça, vais desenhando casa intervalo, cada figura rítmica. Sentes a paixão à flor da pele, arrepia. Inspiras-te nos lugares onde a música de tempestades passadas te deixaram. E, curiosamente, essas lembranças não te trazem a mais ínfima ponta de desespero; por outro lado, dão-te força e coragem para ultrapassar obstáculos. Sempre adoraste as mais bruscas mudanças de tom. É incerto, arriscado, mas assombroso como fazes sempre com que tudo soe na perfeição.
Expira.
E sorris. Estou uns passos à tua frente, encharcada pela chuva que teimava em cair, marcando o compasso da tua, da nossa, vida. Devolvo-te o sorriso. Conheço bem a tua loucura, e tu sabes disso. Corres para mim com trovas nos lábios. Beijo-te e danço para ti. Como sei o quanto adoras… Continuas a trautear e acompanhas-me. Nenhum de nós tem medo do desvairo e do devaneio do ser. A espontaneidade vai-nos iluminando a alma, aquecendo o peito.
Apaixonados, amantes ou nada, sei que somos dois loucos a deambular à chuva, acreditando encontrar o que o resto do mundo pensa ser utópico. Mas tu vais-me lembrando… Os outros é que estão errados. A nossa história de efemeridade continua a ser uma melhor opção aos anos de melancolia e solidão. E esses tais anos, meu amor, nunca irão vingar na imortalidade da nossa existência.
Respira.
E abraças-me contra a morte."
Onde ela prefere manter o anonimato e apenas contam as palavras, os sentimentos.
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