Retrospectivas

O que é o amor? É

tão diferente do que era antigamente. No tempo dos nossos avós vivia-se o amor de outra forma. Havia amor à primeira vista. Havia paixão e fogosidade na relação. Fugia-se de casa a meio da noite. Trepavam-se varandas. Enfrentava-se a futura sogra. Invadiam-se quintais para roubar meia dúzia de rosas. Tudo valia a pena para receber um simples

beijo. Movia-se o mundo por um pequeno gesto. Mas era apenas isso que valia a pena. Era levar o sabor dos lábios para casa. Era fechar os olhos e relembrar aquele momento. Era ter saudade de sentir aquele sabor a framboesa. Morder os lábios e reviver. Eles

viviam por isso. Havia paixão nos gestos, sentimento nas palavras e cavalheirismo nos actos. Ainda hoje, recordamos essas histórias com nostalgia. Quando se sentam à lareira e dizem com um brilho nos olhos o dia em que lhes abriram a porta do carro. Ou lhes puxaram a cadeira ao jantar. Ou lhes deram licença para passar em primeiro lugar. Ou as ajudaram a carregar algo mais pesado. Ou. Ou. Ou. Mas quando limpamos o pó do livro do amor e vamos ao capítulo dos dias de hoje, a história é bem diferente. Hoje

as pessoas apaixonam-se porque está na moda. Porque viram nos livros que é prático ter parceiro. Porque lhes dá jeito ter uma companhia no Inverno. Aquilo a que eles chamam de cobertor humano. Ou porque são colegas e estão ali ao lado. Pela boleia. Pela ajuda a trabalhar. Ou estudar. Porque se dão bem e não costumam discutir. Porque parece que faz sentido. Além de ficar mais barato. Só se faz uma máquina de lavar. Só se suja uma casa. Ainda conseguem dividir as contas. Porque precisam de um ombro e sabem que ali está sempre alguém. O que aconteceu foi que

o amor perdeu o seu verdadeiro sentido. Já não existe aquela chama. Já não se vivem os momentos como se fossem os últimos. O sexo é apenas mais um acto mecanizado. É chegar, despir, fazer, vestir e ir embora. Parece uma visita a um bordel mas sem o pagamento. Não existe o carinho nem a atenção. Não existe a cumplicidade nem o mimo. Parece que é uma imposição da sociedade sermos comprometidos. Mas

ainda vamos a tempo de mudar. Abre os olhos. Pensa. Imagina. Mas realiza. Em caso de dúvida, pergunta aqueles senhores que já têm toda uma vida nas costas. Eles te ensinaram que amor sem paixão é apenas um grande vazio mas

Amar com paixão é viver sem passado nem futuro. Apenas o presente importa.

(texto baseado em histórias reais)

A primeira vez, pela primeira vez.


"Continuava tesuda. É daquelas mulheres que não é linda de morrer nem tem um corpo escultural, mas o conjunto funciona bem. É alta, magra, cabelo escuro, peito não muito grande, mas com um rabo bem redondo. Ainda bem que sou um homem de rabos e não de mamas. Os anos tinham-lhe caído bem. O ar de pita com o pito aos saltos tinha desaparecido. Parecia uma mulher segura, confiante, mais do que estaria à espera. Semanas depois liguei-lhe. Não foi fácil marcar um café. Pelos vistos, a Cátia era muito ocupada. Dividia o tempo entre o escritório de advogados onde trabalhava e o voluntariado que lhe ocupava o restante tempo livre. Ficou para a sexta seguinte, sendo que sábado de manhã ela tinha que se levantar cedo porque ia passar o fim-de-semana fora.

Apareceu com umas calças justas que pareciam ter sido feitas à medida para o rabo dela. O top é preto, com umas cenas floreadas que não faziam lá falta nenhuma. Unhas cuidadas, maquilhagem suave, brincos compridos que ficavam bem com o corte cabelo. Quando nos cumprimentamos senti o aroma do perfume dela. Não percebi qual era, mas gostei. Demos aqueles beijos lentos na face, com os lábios, e não só cara com cara. Não sei porquê, mas senti-me a ficar ligeiramente excitado. Estava nervoso como se não tivesse passado por isto já tantas e tantas vezes. A conversa de circunstância durou o tempo suficiente. Falámos do trabalho, das relações falhadas do passado e de nós:

- Podíamos ter tentado, não achas, Francisco?

Apanhou-me desprevenido: - Como assim, Cátia?

- Quando entrámos na faculdade, mesmo com a distância, podíamos ter tentado fazer a relação resultar…

- Agora que falas nisso, podíamos sim, disse, sabendo no entanto que só lhe estava a dizer o que ela quer ouvir. Naquela altura, só queria ir livre e solto para a vida de universitário, sem namoradas herdadas do tempo de escola. Queria andar a foder quem me apetecesse, quando me apetecesse.

Vi que ela ficou feliz com a minha resposta. Cinco minutos depois disse que já era tarde e pediu-me para levá-la a casa. Tinha ido de táxi, porque atrasou-se e não conseguiu ir a casa buscar o carro. Não pensava em subir, mas ela convidou-me. Não pensava porque não me importava estar com ela outra vez, mas não se recusa um convite destes.

- Queres alguma coisa?

- Quero-te a ti, respondi.

Ela sorriu, aproximou-se lentamente e beijámo-nos. E beijámo-nos. Cada vez mais e cada vez mais intenso. Roupa aterrou no chão, no sofá, em cima da cómoda. Empurrou-me para cima de uma poltrona, pôs-se de joelhos. Os lábios fizeram maravilhas. Aguentei-me para não me vir logo ali. Comecei a fazer o que sempre fiz: pensar em basquete. Há quem pense em iraquianas, eu imagino homens de dois metros na luta dos ressaltos. Retribui o preliminar, fiquei ainda mais duro com os gemidos dela. Levei-a para o quarto e fodemos, fodemos durante o tempo que conseguimos aguentar. Não sei se ela se veio. Não percebi e não perguntei. E depois adormecemos. De manhã, ela acordou cedo, mas deixou-me lá ficar. Disse-me que havia croissants e cereais se quisesse comer alguma coisa. O Simão foi feito nessa noite."

História de amor

Quarto dela.

(...)

Ele: Amor, aqui está a tua prenda.

(Ela procura dentro dentro de uma caixa, que tem uma caixa mais pequena. E outra. E outra. Até que chega a uma caixa minúscula. É revestida de veludo azul e quando a abre os seus olhos brilham e soltam uma pequena lágrima. É um fio em prata onde se encontra um coração.)

Ele: É o meu. Agora é teu!

Ela: Que querido. Consegues sempre arranjar algo para me surpreender. A tua prenda está aqui no quarto. Está na cómoda, primeira gaveta.

Ele: Mas a gaveta está vazia.

Ela: A gaveta é a prenda. Agora tens um espaço para teres as tuas coisas. E deixou de ser o meu espaço, agora é meu e teu. É nosso!

(Ele sorriu e beijou-a.)

(...)

Trunfo: Todos temos um.

"Tenho piada. Muita. É um dom que me acompanha desde sempre. Não tenho aquela piada para fazer stand-up, mas sim uma natural, que é bastante útil nas conversas triviais que se tem no dia-a-dia. Não a uso só com o objectivo de ter sorte com as mulheres. Nada disso. Fazer uma piadola, seja com a senhora que está atrás do balcão nas Finanças, ou a cortar os frangos no Pingo Doce, fica sempre bem e corta a distância natural que existe nestas situações. E são sempre mais simpáticas. Ninguém fica a perder, portanto.
Mas sim, com as mulheres, o meu trunfo é ter piada. As mulheres gostam de um homem com sentido de humor. Não de palhaços de circo, mas de um homem que as faça rir. E muito. Não se pode é cair no exagero. Tem-se que dosear a piadola bem metida a meio de uma conversa, com um registo mais sóbrio, para não cansar a outra parte.
Tendo piada, nunca pensei muito no facto de ser giro ou feio. Ou seja, nunca foi esse o meu trunfo ao longo dos anos, por isso, acho que sempre me achei mais feio do que na realidade sou. E ser giro é apenas um bónus para mim, porque aposto tudo na capacidade de fazer rir uma mulher. E uma mulher que se ri com vontade, é uma mulher que me associa a momentos agradáveis, divertidos e bem passados.
Todos os homens têm que saber jogar com o que tem. Há aqueles que são giros e que nem precisam de falar para elas lhe acharem piada. Há outros que usam a inteligência e cultura geral para surpreender uma mulher, deixando-a cativada intelectualmente. Outros são como eu, piadolas. Há mulheres para todos os tipos de homens. Só temos é que encontrá-las. Parece mais difícil do que é."

(em 'O Homem Invisível')

Conversas ocasionais.

- Desculpa, não estás no meu coração!
- Como assim?
- (...)
- Então?
- O meu coração é teu.
- Raios, eu vou-te matar. Com essas palavras deixas-me K.O.

Como está visto, não são precisas muitas palavras para conquistar alguém. Apenas são precisas as certas.

Escrito por JD.

A carta anónima.


Existem sentimentos que por mais que o tempo passe por eles, já se tornaram intemporais. Isto acaba por definir a grandeza que criaram dentro nós. Não têm medo de nada. Nem da erosão do tempo, nem da força das palavras, nem da longevidade das saudades. Permanecem firmes ao longo da vida. E por isso tornam-se especiais. É a conjugação de factores que os torna únicos. É uma mistura de amizade com amor, de brincadeiras com seriedade, de abraços e beijos com turras e murras. Com tanta algazarra ficam sem definição. Perdi a noção de como lhe chamar, como me perdi no significado de mim. E de ti. Acho que além de perdido, foi algo erradicado dentro da minha memória a partir do momento que apareceu o ‘nós’.  ‘Nós’ somos tudo aquilo com que os comuns mortais sonham. Temos o que desejamos e é isso que o torna motivo de inveja. Porque não existe algo assim para além do nosso mundo. Um conto de fadas. Feito de príncipes e princesas, de sonhos. Um mundo só nosso onde ninguém ousará entrar. E de onde nós nunca queremos sair. Porque lá somos felizes na plenitude dos nossos seres. Sem medo e sem receios do mundo real. Nesse permanecem apenas os nossos corpos. As nossas almas há muito que se interligaram e viajam. Para aqui. Para ali. Para onde nos completamos. Onde a nossa cumplicidade é rainha e senhora de todos os nossos passos. E as nossas vivências serão as histórias que alguém irá contar aos seus filhos e netos para os adormecerem.  E com isto me despeço, com um obrigado amiga, obrigado amor, obrigado voz da consciência, obrigado ouvinte. Para sempre teu.

Sonhos quebrados

Era uma vez,

Um sonho. Sem que nada o fizesse prever, os meus olhos colaram nos teus. E os teus nos meus. O coração começou a palpitar. As mãos começaram a transpirar, aquele nervoso miudinho não me largava. As pernas fizeram o favor de ajudar e começaram a tremelicar. Ai eu não sou assim, só podes ser 'a Tal'. Mas

Mas com tanto, e com tão pouco fiquei mais tímido do que nunca. Tu desconfiaste. As minhas bochechas começaram a rosar, os olhos começaram a brilhar e eu não podia fazer mais nada do que desviar o olhar. Tu soubeste que era verdadeiro, o mais puro dos sentimentos. Gostei de ti assim que te vi.
O concerto continuava, as baladas seguiam-se umas após outras e nós não voltámos a cruzar olhares. Apenas diminuíamos o espaço que existia entre nós. Pé ante pé, sem que ninguém desse conta, íamos aproximando nossos corpos. Porque

Porque eles estavam a despejar paixão. Ninguém precisava de nos dizer, estava à vista de toda a gente. Eu queria-te tanto como tu me querias a mim. Mas tínhamos medo. De onde estávamos, de quem nos rodeava. Do mundo. Nada daquilo era para ser perdido, no fundo esse era o grande medo. Até

Até que se deu o click. Um cover de Bruno Mars, 'Just the way You are'. Era o que faltava para nos libertamos do medo. O meu dedo mindinho começou a enroscar-se no teu e dedo após dedo, as nossas mãos estavam entrelaçadas. Sabíamos que seria para sempre a nossa música, era algo que descrevia tudo aquilo que vi e o que sabia que iria ver em ti. Ouvimos toda a música em silêncio. O momento era bom demais, merecia ser apreciado. Os sonhos de cada um viajavam à velocidade da luz nos olhos do outro. O mundo tinha parado ali. E

E a incerteza deu lugar à vontade. Naquele último verso, aqueles segundos pareceram horas. Ainda hoje revejo tudo em 'slow motion' tal a lentidão como tudo aconteceu. As nossas cabeças começaram a rodar na direcção do outro e roubamos o último espaço que haviam entre nós. Os nossos lábios se encontraram. Tocaram-se. Sabiam que aquele era o primeiro de todos, o que mais merecia ser vivido. Saborearam tudo de uma maneira única. Sempre 'decorei' o sabor que ficou nos meus lábios depois. Era o sonho tornado realidade, assim pensava eu. Belisquei-me. E tudo não passava de eu a sonhar acordado.

Sonhos. Outros sonhos. Mais sonhos.