Dois euros.

Intervalo. Finalmente um intervalo. Pedro encontrava-se exausto. Sonhava com aquela hora desde que entrou. Tinha passado mal a noite, dormido pouco. Dirigiu-se a uma esplanada para satisfazer o seu pequeno vício.

- Um café, por favor.

Enquanto apreciava o seu café, e com todo o tempo do mundo, Pedro decidiu observar a paisagem e as pessoas. Em pouco tempo satisfez-se de conclusões. Existem pombas. Muitas pombas. Pombas por todo o lado. Sozinhas. Em grupo. As pessoas de Lisboa já se habituaram a estes pequenos voadores. Algumas andam pela rua como se elas não existissem. Outras tratam-nas como seus animais de estimação e decidem alimentá-las com pequenas migalhas de pão duro. Até as pombas já se sentem o alarido da capital. Correm. Fogem. Não param um segundo.

Não param um segundo, como os alfacinhas. Peço desculpa, ninguém que vive em Lisboa nasceu realmente lá. Foram todos à procura do mesmo sonho que Pedro, trabalho. E por isso não vivem em Lisboa, vivem de Lisboa. Olhando em sua volta, ninguém parava quieto. Ou para apanhar o metro. Ou o táxi, Ou o autocarro. Era notório a falta de felicidade na cara daqueles transeuntes. Apenas viviam para trabalhar e dormir. Ninguém aproveitava o que de bom havia para oferecer. Todos os seus companheiros de esplanada eram turistas. Ouvia-se inglês. Francês. Espanhol. Italiano. E outras línguas ainda mais indecifráveis, talvez indiano ou outra.

E era destes turistas que outra classe social se alimentava. A cada cinco metros encontrava-se um pedinte. Ou um cantor. Um dançarino. Um vendedor de bugigangas, relógios ou óculos de sol. Em dias de chuva, a oportunidade dos chapéus. Estátuas vivas. Tudo girava à volta do dinheiro que lhes podiam oferecer, ou não. Alguns mais descarados, decidiam vender maconha. Com isto, Pedro associou as pombas. As pessoas pareciam reagir da mesma forma com ambos, ou alimentando-os ou ignorando-os. A música continuava a zumbir aos ouvidos de muitos. Até dos dele próprio, quando reparou que o seu intervalo estava a acabar.

- Olhe desculpe, pode-me fazer a conta?
- Dois euros.

- Em Lisboa pensam que toda a gente é turista - pensou Pedro.