Um rapaz do interior na capital

Nas voltas da vida, ele acabaria por embarcar com destino a Lisboa.

Com tamanhos sonhos, por tantas vezes de olhos abertos, ele acabaria onde menos esperaria. Que cidade é esta? O que tem isto a ver com a minha aldeia? Estas e outras, eram algumas das perguntas que se deparou quando chegou à estação dos autocarros e ouviu, "última paragem!".

Pedro. Era o nome do rapaz. Nascido e criado no interior a viver na capital. Um mundo diferente, completamente díspar de tudo aquilo que conheceu. Lisboa é terra de encantos. É propicio a tantas novidades. Maravilhas acontecem em cada canto, por vezes em mais que um canto ao mesmo tempo. Pedro nunca teria tempo para conhecer tudo. Nem metade. Talvez um décimo seria possível. Talvez...

Após uma névoa inicial, era necessário tomar as rédeas da vida. Já que aqui vou viver durante os próximos tempos, ao menos que viva como se deve viver, era o lema que Pedro pensava dia após dia quando acordava. A desilusão deu lugar a entusiasmo, a curiosidade. Aquela eternidade que os minutos no seu relógio cássio demoravam a passar, desapareceu. Pelo contrário, faltava-lhe tempo e, sobretudo, vivacidade para conseguir conhecer ainda mais.

Lisboa tinha tanto de bom. Existe um teatro em cada esquina. Cafés temáticos são aos pontapés. Música ao vivo em cada buraquinho. Restaurantes típicos de diferentes países até perder a conta. Meninas bonitas. Ai as meninas bonitas. Pedro nunca sabia para onde se virar na rua. Para onde quer que olhasse encontrava sempre uma menina bonita. Era a sua perdição. O local que escolheu para viver em tudo lhe fazia lembrar a sua casa. Era um bairro no meio da metrópole. A roupa estendida no parapeito da janela. As pessoas à conversa como os vizinhos costumam fazer. Gente acolhedora. Até a senhora da mercearia era prestável. Quando faltava o dinheiro na carteira, ela fazia fiado. A confiança, amabilidade e companheirismo reinavam naquele pequeno mundo.

Mas também tinha de mau. Lisboa era terra de desconhecidos. A maioria das pessoas com que Pedro se cruzava, encontravam-se na mesma situação que ele. Ninguém pertencia realmente ali. Vieram à procura das oportunidades, tal como ele. E por isso era tão complicado fazer amigos. Toda a gente já tinha os seus amigos (mesmo ele, apesar de com todo o trânsito e horários trocados nunca os conseguir ver). Toda a gente tinha a sua cidade natal. E com isto imperava a saudade de casa. Da família e dos amigos. Este sentimento era aquele com que Pedro mais lutava. A saudade de se reunir ao fim do dia com os amigos. Beber um copo. Jogar umas cartas. A diversão era sempre relativa quando o importante era a reunião. E a conversa. O aconchego da lareira. A doçura de nos sentarmos à mesa com o jantar feito, com aquele sabor especial. Fosse a mãe ou a avó, o comida tinha sempre outro gosto. Outro paladar. O abraço ao domingo era a imagem marcante num dos seus olhos, os sorrisos de sexta feira era o seu complemento.

Lisboa ainda é para ele, como a música dizia, menina e moça. Prestes a ser amada, como cidade mulher da sua vida.

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