All over again.

"Nunca me vais deixar, pois não? Vais continuar a alimentar este vício, esta coisa estranha que nos liga à qual em outros tempos chamei amor. Insistes, persistes, não desistes. Abraças, sorris, beijas. Reencontras em mim a parte que, em tempos, vivia de ti, era louca por ti. Pelo teu cheiro, pelo calor do teu corpo agarrado ao meu, pelo teu olhar arrojado que sempre captou o âmago do meu ser. Ainda hoje, no agora, continuas a olhar-me assim, talvez seja isso que faz com que eu continue a sorrir-te também da mesma maneira.
O telefone toca, vejo o teu nome a lampejar no visor. Tento conter o aperto no peito, respiro fundo, atendo.
“Meu anjo, meu amor, onde estás? Quero ver-te, tenho saudades tuas.”
Dou por mim já sentada num dos degraus da calçada, à tua espera, sem perceber o porquê. Apareces e eu fixo o olhar em ti. Estás tão diferente. Vê bem o que estes anos nos fizeram!... Aproximas-te, procuras instantaneamente a minha mão, apertas-me com força, como se ninguém me pudesse arrancar de ti naquele instante. Dás-me um beijo ao de leve na testa, terno como sempre soubeste ser quando estás comigo, e sentas-te ao meu lado. Tens o dom de me dar a volta à cabeça, e a parte perigosa é que tens mais do que consciência disso. Sempre foste um jogador e é isso que me faz duvidar do que continuas a querer de mim. Eu estava mesmo doida por ti, era um amor vívido e impetuoso, deste-me a volta à cabeça, fulminaste-me o cérebro, arrastaste-me o coração. Tinhas-me na mão. Mas o teu melhor trunfo e as tuas jogadas mágicas e algo malévolas foram também o que te levou a fraquejar. Obrigaste-me a entrar numa brincadeira que aprendi a jogar. Sem te aperceberes, já te movias sob as minhas regras, no mesmo tabuleiro e com as mesmas peças. Circunstâncias diferentes, tudo tem e acaba por mudar, não é?
Beijaste-me, e eu não te impedi. De olhos fechados, pensei num presente em conjunto que sei não existir. Pois és passado, nunca conseguimos fazer com que a nossa, digamos, história, valesse realmente a pena. Será que estamos mesmo condenados a isto, a viver desencontrados? Sei que tivemos um começo, um início. O meio é difícil de encontrar, está longe de ser algo nítido e perceptível. Sei que agora é tudo uma enorme escala de cinzentos, e que este relato da nossa conturbada existência está distante de um final. Connosco nunca nada foi a preto ou branco, foi sempre assim, uma interminável sucessão de cinzentos. Sempre, sempre. E o maior problema é que vai continuar a sê-lo.
Despeço-me de ti. Desta vez, sou eu que te beijo. Um beijo quente e fugidio. Sorrio e venho embora. Conheço bem a parte de ti que é previsível, sei que os teus olhos seguem os meus passos, a afastar-me.
E sabemos os dois… é só um “volto já”."

O anonimato é algo que não condiz com a beleza da tua escrita.

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