Centro do Mundo

Poucos minutos passavam das cinco da tarde, quando eu entrei pela aquela porta. Um ambiente morto, sem vida, cheio de espelhos nas paredes e cadeiras espalhadas pela sala. A musica ambiente mais fazia lembrar Oceano Pacífico mas estava num volume muito baixo, nada podia perturbar aquele meio. 
Eu sento-me na primeira cadeira que encontrei e apanhei uma revista que se encontrava ao meu lado, num meio de muitas.. O importante nem era a revista, pois já datava de 2009 mas sim um modo de fazer o tempo passar mais rápido porque aquele lugar é um martírio para mim. Ainda só tinha folheado meia dúzia de folhas quando entram mais duas senhoras e uma rapariga dos seus 20 e poucos anos... E aí tudo mudou! Aquele ambiente pesado deu lugar a uma algazarra enorme, o volume da musica foi aumentado, as persianas abertas ainda mais e a porta já nao mais se fechou. E aí, eu ouço uma voz: "é o senhor, por aqui".

Já sentado na cadeira, olhava pelo espelho e conseguia ver tantos movimentos que mais parecia estar num baile de S. Joao. O sossego tinha acabado e só me restava prestar um mínimo de atençao do que acontecendo à minha volta. Alguem dizia, lembras-te daquela moça nova que casou com o artur da panasqueira? olha, deixou o homem (deixando padecer uma cara de quem tinha pena, que coitado) e foi viver com o ex-marido da prima. 
Enquanto as outras ouviam atentamente, a mãe da rapariga nova diz, acabei de vir da praça e na banca da maria das sardinhas ouvi dizer que aquele rapaz que vinha aqui a entregar aquelas flores à ti glória se tinha mandado duma ponte no barroqinho porque a namorada o tinha deixado. Olha ficou em coma e pelo que me disse a rosa lá do hospital, não deve viver para contar a história.
A moça, que tinha o feitio da mãe (pelo menos parecia), queria entrar na conversa também e surge o seguinte tema. Olha mãe, lembraste do bruno que foi lá lanchar a casa no domingo de carnaval. O pai dele ganhou o totoloto a semana passada e agora anda cheio de dinheiro. Já mudaram de casa, de carro, o bruno agora tem uma mota e a mãe deixou de trabalhar. 
Entretanto chega um senhor com umas toalhas, e tal era o volume da conversa (e a animação já agora), não pode deixar de ouvir e quis deixar também o seu comentário. Olha mariana, o pai do rapaz que não se ponha a pau e acontece o mesmo que ao rui padeiro.. Ganhou o totoloto, começou a gastar que nem um doido, encheu-se de dívidas e agora anda na banca rota. A mulher deixou-o, os filhos já nao lhe falam e anda a pedir de porta em porta. Por vezes, é preciso ter cabeçinha!

E a razão que me tinha levado ali, já mais nao interessava. O trabalho estava feito e só me faltava pagar. Mas naqueles 30 minutos da minha vida, soube mais coisas que nos ultimos dias. A próxima vez que me faltar informação sobre o que me rodeia, já sei onde me deslocar:
O cabeleireiro, o Centro do Mundo!

2 comentários:

  1. eu acho piada a expressões do género "Olhe! quem é mto amigo é a menina do cabeleireiro e o doutor da farmácia" ou "a filha do jaquim da maria barroca" opá... terrinhas é o auge neste aspecto... qdo n é o nosso nome q tá a ser falado :P

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